Wednesday, October 04, 2006

II Edição do Ciclo Fio Solto. Na Vida dos Bonecos.

Reedita-se o ciclo Fio Solto integrado no 9.º Festival Nacional de Marionetas: Marionetas na Cidade, em parceria com os S.A. Marionetas. A 7.ª à 5.ª apresenta este ano um pequeno ciclo com um universo temático agora alargado aos bonecos volumétricos animados.
A mostra deste ano, apesar de sensivelmente mais curta (duas sessões em dois dias: 05 de Outubro e 12 de Outubro) ganha em diversidade e novidade. Diversidade desde logo nos formatos apresentados e que para além do cinema de marionetas e do cinema convencional, terá duas mostras de curtas de animação que englobará um leque variado de géneros que vão desde a evocação das sombras chinesas, à plasticina ou a manipulação e animação de volumes. Já a novidade consiste em duas vertentes.
Por um lado, a possibilidade de serem visionados em Alcobaça o que de melhor se tem feito em redor do vídeo de animação em Portugal e por outro, a oportunidade dada a jovens realizadores ainda em formação na área do cinema e dos audiovisuais, de fazer sessões públicas das suas obras. Realce-se a programação de quatro filmes de realizadores ligados à trupe Daltonic Bros. (reconhecido universo de artistas do vídeo independente, baseado nas figuras de João Pedro Gomes e Paulo Abreu) e a inclusão de outros 3 vídeos provenientes da ESAD onde se inclui a primeira apresentação pública do vídeoclip inspirado nos The Pixies do alcobacense Pedro Vicente.
No que toca às longas-metragens o programa centra-se, tal como no ano passado, nos universos paralelos ligado às marionetas. O mundo das marionetas estará excelentemente representado com a 2.ª obra do super mediatico Peter Jackson Feebles, Os Terríveis (premiado no FantasPorto). A evocação subliminar aos bonecos manipulados concretiza-se a partir da multipremiada obra de Spike Jonze Queres Ser John Malkovich?, onde um John Cuszak, marionetista, tenta ele próprio manipular e deambular pela cabeça do grande John Malkovich! A não perder!

O prometido é devido...

Tal como foi antevisto, quando da suspensão dos ciclos mensais em Abril de 2006, confirma-se uma nova edição do ciclo Fio Solto em parceria com as S. A. Marionetas e sua integração no 9.º Festival Nacional de Teatro de Marionetas: Marionetas na Cidade. Uma experiência positiva no ano passado que potencializou a sua reedição este ano agora com um âmbito mais alargado: a temática abrange a figura dos bonecos volumétricos animados. A participação em eventos especiais foi desde então uma das possibilidades de reaparição o que veio a concretizar-se agora, cinco meses depois do último ciclo organizado por esta equipa.Tínhamos assumido então em Abril que estaríamos de volta, de forma pontual, sempre que se criassem as condições que achamos necessárias para a divulgação da 7.ª Arte. Essas condições, ainda que momentaneamente, estão assim reunidas na adaptação do espaço do Auditório da Escola Adães Bermudes e Alcobaça voltará a ter, em dois dias, a possibilidade de acesso a uma programação alternativa de cinema de qualidade.

Thursday, April 27, 2006

Um ano...

Como é sabido, a 7.ª à 5.ª cumpriu recentemente um ano de programação de cinema alternativo em Alcobaça. Uma aventura que se iniciou com o objectivo claro de devolver à cidade um espaço exclusivamente dedicado a um tipo de oferta complementar à do cinema comercial. Era dada a oportunidade de criação de um espaço de exibição que se quis, desde início, intimista, propício à constituição de um núcleo de amantes do bom cinema. Hoje podemos dizer com segurança que esse desafio foi ganho! Tivemos bom cinema, constituiu-se um número seguro de público que se foi identificando com esta iniciativa e finalmente, atingiu-se um nível de interesse sobre o cinema no panorama cultural local e regional. Bases fundamentais para a edificação de um núcleo cinéfilo em Alcobaça. Partindo do lema “tentar o cinema” a organização desenvolveu uma programação contínua de ciclos temáticos de característica assumidamente pedagógica e de entretenimento. Um cinema projectado para o futuro.

A parte mais significativa do sucesso deste desafio prendeu-se com a própria adesão do público que em certos casos chegou mesmo a surpreender as melhores expectativas, desde logo, com o ciclo inaugural que esgotou. Bem contabilizados, tivemos ao longo do ano (Fevereiro de 2005 a Abril de 2006): 12 ciclos temáticos (apesar de ter funcionado durante 14 meses, havendo 2, por imperativos ligados à própria organização do Cine-Teatro, em que não foi possível produzir o evento); 46 sessões para 1400 espectadores! Foi concretizada igualmente uma parceria importante, como a organização do ciclo Fio Solto. Na Vida das Marionetas, com os S. A. Marionetas para o 8.º Festival Marionetas na Cidade. Uma experiência a repetir.

Durante este percurso inicial, queremos realçar o apoio logístico da autarquia (através do Pelouro da Cultura, em especial, do Cine-Teatro e da Biblioteca Municipal) bem como o pequeno rol de patrocinadores que contribuíram para a divulgação deste evento (Tipografia Alcobacense e Space), onde consta também a equipa de criativos da Velcro, associada a este projecto desde Julho de 2005.

Após esta primeira fase de experimentação, a 7.ª à 5.ª vai parar! Não por falta de ideias e iniciativa própria mas antes por razões, que apesar de estarem completamente fora do domínio da organização, condicionam a possibilidade de continuação. Por motivos inerentes à própria gestão e funcionamento do Cine-Teatro de Alcobaça, a 7.ª à 5.ª deixa de ter uma sala conveniente que assegure o regular desenvolvimento de um projecto nos moldes como tinha sido até aqui idealizado. Esta situação obriga ao estabelecimento de um período seguinte que será investido na reflexão e no estabelecimento de novas linhas de acção que irão passar pela participação em eventos especiais ou em manifestações pontuais ligadas à 7.ª Arte. Esta será, até se reunirem as condições logísticas necessárias ao reatamento de uma programação regular, a posição desta equipa de organização.

Neste momento, resta-nos agradecer à Câmara Municipal de Alcobaça ter-nos dado a todos a oportunidade de “viver” esta bela experiência. Igualmente, gostaríamos de estender os nossos agradecimentos a todos aqueles que colaboraram directa, indirecta, institucionalmente ou de forma particular com a organização dos ciclos de cinema. Por fim, mas não em último, transmitir o nosso obrigado ao público que foi preenchendo as sessões ao longo deste tempo e cuja assiduidade e persistência foram a base mais sólida deste projecto.

A todos bem hajam e o nosso sempre muito obrigado.
Uma coisa é certa. A 7.ª à 5.ª estará sempre disponível para dar mais cinema de qualidade em Alcobaça.

Já agora vejam sempre, quando e onde puderem, bom cinema. Viva a 7.ª Arte!

A organização:
[Alberto Guerreiro/António Lameiras/Milton Dias]

Friday, April 07, 2006

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Friday, March 24, 2006

Abril | Ciclo "Ideais"

06_ABR:
Diários de Che Guevara de Walter Salles

13_ABR:
Os Sonhadores de Bernardo Bertolucci

20_ABR:
A Insustentável Leveza dos Ser de Philip Kaufman

27_ABR_Em_Órbita:
Ao Encontro de Fidel de Oliver Stone

Monday, March 20, 2006

Corre Lola Corre / Run Lola Run

Realizado por Tom Tykwer
Alemanha, 1998

Todos os dias a cada segundo podes tomar uma decisão que mudará para sempre a tua vida.
Manni (Moritz Bleibtreu), um estafeta de um grande gangster, está à espera da sua namorada, Lola (Franka Potente). Tem em mãos um transporte como tantos outros que fez até aquele dia. Porém, desta vez, a sua namorada está atrasada, e devido a vários golpes de azar, Manni perde o dinheiro. Lola terá de ir buscar Manni e no caminho arranjar os 100000 marcos que têm de entregar dentro de vinte minutos. Uma corrida pela cidade onde a mais pequena decisão poderá ser de vida ou de morte.

Friday, March 10, 2006

Colisão / Crash*

Realizado por Paul Haggis
EUA, 2005

'Crash' é uma película que segue o esquema de cruzamentos de filmes como 'Magnolia', de Paul Thomas Anderson, e que se foca na questão do racismo na cidade de Los Angeles. Escrito e realizado por Paul Haggis, o argumentista de 'Million Dollar Baby' (Óscar para Melhor Argumento 2005), este transformou-se rapidamente num dos mais aclamados filmes do ano.

Doze personagens insólitas cruzam-se nesta película mas o que será que têm em comum? Eles são um casal americano comum, um persa dono de uma loja, dois polícias, um africano, director de uma estação televisiva, um mexicano, dois ladrões de automóveis, um polícia a começar a carreira e um casal coreano de meia-idade.
À partida, estas pessoas partilham apenas o facto de viveram em Los Angeles, mas nas próximas 36 horas todos eles vão 'colidir' e estes serão forçados a relacionar-se.
Este drama urbano gira à volta das encruzilhadas inconstantes de um conjunto de personagens multi-étnico que luta para dominar os seus medos... Ousado e polémico, 'Crash' lança um olhar provocador e inflexível às complexidades da tolerância racial na América contemporânea.
De louvar o facto de o autor ter optado por não transmitir uma moral absoluta, optando pela posição politicamente correcta: a de que entre vítima e agressor, não existem respostas fáceis.
*Óscar 2006 para: Melhor Filme, Melhor Argumento Original e Melhor Montagem

Friday, March 03, 2006

21 Gramas

Realizado por: Alejandro González Iñárritu
EUA, 2003

Eles dizem que todos nós perdemos 21 gramas no exacto momento em que morremos... todos nós.

O peso de um punhado de moedas.
O peso de um chocolate.
O peso de um pequeno pássaro...


Em 21 Gramas, o peso que um corpo perde no momento da morte, cruzam-se três histórias, concorrendo para um final inevitável em que alguém perderá os seus vinte um gramas ao exalar o último suspiro, a derradeira morte anunciada desde o início do filme e que surge na senda de outras, pontuando o filme ao longo de um trajecto familiar a Iñárritu e a quantos apreciam o seu cinema musculado, dorido e desencantado.

Da sua cama de hospital e perdida toda a esperança, Paul Rivers (Sean Penn) relata-nos o que o levou até ali, numa espera conformada que apenas terminará no final do filme. Fala-nos do coração destruído pelo tabaco, da operação redentora, do desejo de descobrir o dador, do afastamento que se vai instalando entre si e a sua companheira Mary (Charlotte Gainsbourg) que acaba deixando-o e regressando à Europa natal.


Através do seu relato, conhecemos Jack Jordan (Benicio Del Toro), um ex-criminoso reabilitado e redimido pela Fé, em conflito com os seus tutores e discípulos, com a mulher (Melissa Leo) e os filhos, um homem cuja vida se irá cruzar com a de Paul pelas piores razões, apressando o fim deste e inflamando a sua alma com uma imensa e insolúvel culpa.


Cristina Peck (Naomi Watts) completa o triângulo, ao perder o marido e as filhas num acidente estúpido que lhe destruirá a vida e a precipitará nas vidas de Paul e Jack, embora por razões diversas e antagónicas.
É um círculo de violência, ódio, amor e morte que só abranda quando alguém tomba, enredando os personagens num emaranhado sem saída...

Monday, February 27, 2006

11:14 - Onze Horas e Catorze Minutos

Realizado por: Greg Marcks
Canadá, EUA, 2003
Às onze e catorze da noite, as vidas suburbanas de um motorista bêbado, uma adolescente aborrecida, um pai protector, um metálico preguiçoso e uma rapariga manipuladora entram em rota de colisão, originando uma série de inesperadas voltas e reviravoltas...

Friday, February 24, 2006

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Março | Ciclo "Encruzilhadas"

02_MAR:
11:14 - Onze Horas e Catorze Minutos de Greg Marcks

09_MAR:
21 Gramas de Alejandro González Iñárritu

16_MAR:
Colisão de Paul Haggis

23_MAR_Em_Órbita:
Corre Lola Corre de Tom Tykwer

Monday, February 20, 2006

De Olhos Abertos

Realizado por: Alejandro Amenábar
Espanha, Itália, França, 1997

Por vezes, as aparências iludem. Mesmo de olhos abertos, podemos viver num pesadelo!
César tinha tudo a seu favor - encantador, rico e incrívelmente bem parecido. Mas, por vezes, as aparências iludem.
Na noite do seu 25º aniversário, César conhece Sofia, e pela primeira vez pensa ter encontrado a mulher ideal. Mas depois de deixar Sofia, César é abordado por Nuria, a namorada que abandonou na véspera.
Perturbada pela forma como fora tratada Nuria pede-lhe outra oportunidade, implorando-lhe que a deixe entrar no carro. Um erro que lhe vai ser fatal, já que com a fúria dos ciúmes, Nuria atira o carro para fora da estrada, matando-se e desfigurando o antes lindíssimo César.
Depois do acidente, fantasia e realidade começam a misturar-se. César acorda numa prisão psiquiátrica, onde está a ser avaliado por uma morte de que não se lembra. Com a ajuda de um psiquiatra, revive os acontecimentos que ocorreram após o despiste, tentando perceber como chegou àquele pesadelo.
Se ele se lembra de lhe tratarem do rosto, porque razão ainda usa uma máscara? Se Nuria morreu no acidente, como é que voltou a ter vida? Se Sofia era o seu verdadeiro amor, porque é que a matou? Está César a viver um sonho ou será que ficou louco?

Monday, February 13, 2006

Paris, Texas - o cinema poético de Wim Wenders

Realizado por: Wim Wenders
Reino Unido, França, Alemanha, EUA, 1984

Diz o célebre ditado que "uma imagem vale mais do que mil palavras" e o cinema é o território ideal para construir uma teia ficcional de sentidos e experimentar modelos narrativos que nem sempre se esgotam nas fórmulas lineares de um género. O realizador alemão Wim Wenders gosta de baralhar as coordenadas e arriscar no valor afectivo das imagens, usando-as como objecto de reflexão de outras problemáticas, como a família (caso de Paris, Texas), a música (como no documentário Buena Vista Social Club) ou o próprio cinema (visível em O Estado das Coisas).
Sob o sol ardente do deserto árido do Texas um homem caminha, sozinho, na imensidão da paisagem. Sabe que não pode voltar ao passado. Só lhe resta despedir-se, para sempre.

Drama familiar, Paris, Texas, centra-se na deambulação de um amnésico (Harry Dean Stanton) em busca das memórias de um amor antigo por uma bela mulher, a inesquecível Nastassja Kinski. O filme venceu a Palma d'Ouro do Festival de Cannes e é talvez o mais intenso exercício afectivo de Wenders, que culmina com uma longa cena passada numa cabina de uma loja de sexo, com os dois protagonistas separados por um vidro e a entenderem as repercussões do seu amor. Paris, Texas é um exercício de melancolia inesquecível que questiona os limites da identidade.

Tuesday, February 07, 2006

O Regresso do Laranja Mecânica

Um dos benefícios da ainda recente reabertura ao público do Cine-Teatro de Alcobaça foi a possibilidade de os cinéfilos alcobacenses terem voltado a poder assistir regularmente a espectáculos de cinema na sua cidade.
Além da programação comercial da sua sala principal, tem também durante este ano e pouco merecido particular atenção a pertinente programação paralela dos ciclos 7ª à 5ª, semanalmente apresentados no seu pequeno auditório.
Esses ciclos têm tido a honra e a virtude de apresentar em Alcobaça filmes menos comerciais, os chamados filmes de autor, que, contudo, têm também o seu público, que até nem é assim tão escasso…
Muitos dos filmes que têm sido apresentados nesses ciclos são bastante recentes e actuais, mas não têm também ali faltado marcantes filmes de outras épocas. E aqui recordo ter também assistido na antiga sala do nosso renovado Cine-Teatro, já há umas boas dezenas de anos, à projecção de filmes tão significativos como O Mundo a Seus Pés (de Orson Welles), Ivan, o Terrível (de Sergei Eisenstein), Easy Rider (de Dennis Hopper) ou, entre muitos outros, 2001-Odisseia no Espaço, o filme que me tornou fã de Stanley Kubrick para todo o sempre…
(...)
Laranja Mecânica é, aparentemente, um filme sobre a violência e a delinquência juvenil. Todavia, do que Kubrick nele nos fala é da violência psicológica e da delinquência do poder. Seja ele político, ou não… Este não é um filme normal. Antes pelo contrário. O chefe do gang juvenil frequenta bares onde apenas se bebe leite e a sua música preferida é a Nona Sinfonia de Beethoven.
Todavia, somos logo por si seduzidos na primeira cena: ouvindo a irresistível música electrónica que Wendy (então Walter) Carlos compôs para este genial Kubrick, enquanto o olhar simultaneamente maroto e provocador de Alex (interpretado pelo inesquecível Malcolm McDowell) nos enleia na sua rede de irónica maledicência.
Poucos segundos depois Laranja Mecânica arranca para a sua caleidoscópica espiral de brutalidade, humor negro e suprema qualidade cinematográfica, a um ritmo tão imparável que só conseguimos sossegar mesmo no fim. Quando este filme concebido a partir do não menos genial romance homónimo de Anthony Burgess chega simultaneamente ao céu e ao inferno! Seja lá isso o que for…

José Alberto Vasco

Monday, January 30, 2006

Laranja Mecânica

Realizado por: Stanley Kubrick
GB, 1971

Pontapear, agredir, roubar, cantar, dançar sapateado, violar.
Desordeiro de chapéu de côco, Alex (Malcolm McDowell) tem uma maneira muito particular de se divertir. E fá-lo à custa da desgraça dos outros. O trajecto de Alex desde punk amoral a respeitável cidadão, após uma lavagem ao cérebro, forma o arco dramático da visão futurista e de choque que Stanley Kubrick tem do romance de Anthony Burgess.
Imagens inesquecíveis, surpreendentes contrastes musicais, a fascinante linguagem usada por Alex e pelos seus parceiros - Kubrick molda todos estes elementos num todo esmagador. Altamente controverso quando estreou, Laranja Mecânica venceu o prémio da associação de Críticos de Cinema de Nova Iorque para Melhor Filme e Melhor Realizador e mereceu quatro nomeações para os Óscares, incluindo Melhor Filme.
O poder da sua arte é tal que ainda hoje nos seduz, nos choca e nos agarra por completo.

Friday, January 27, 2006

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Fevereiro | Ciclo "7.ª/1 ANO

A 7.ª à 5.ª comemora, em Fevereiro, 1 ano de projecções de cinema de qualidade em Alcobaça e para assinalar este facto a organização decidiu auscultar as tendências do público.
A partir das escolhas de um inquérito aplicado, tendo em vista as suas preferências cinematográficas, a escolha do público acabou por recair na obra prima de Stanley Kubrick: Laranja Mecânica. As segundas escolhas foram para duas outras grandes obras: Paris, Texas de Wim Wenders e O Homem Elefante de David Lynch (filme que, por motivos de programação interna do Cine-Teatro, não poderemos exibir neste ciclo comemorativo).
Em órbita, apresenta-se a escolha da equipa de programação da 7.ª à 5.ª - De Olhos Abertos de Alejandro Amenábar. O critério seguido não privilegia o gosto pessoal dos membros do grupo, mas antes trata-se de uma opção colectiva por uma obra que os programadores consideram como exemplo marcante do paradigma da cinematografia contemporânea e de futuro.
02_02:
"Laranja Mecânica" de Stanley Kubrick
09_02:
Não há sessão
16_02:
"Paris, Texas" de Wim Wenders
Em órbita: a escolha do grupo 7.ª à 5.ª
23_02:
"De Olhos Abertos" de Alejandro Amenábar

Monday, January 23, 2006

Oldboy - Velho Amigo

Realizado por: Chan-Wook Park
Coreia do Sul, 2003
Dae-su é um homem casado e pai de uma filha. Um dia, por razões que desconhece, vê-se fechado numa cela de prisão. Com uma pequena televisão como única ligação ao mundo exterior, Dae-su descobre que a sua mulher foi assassinada.
15 anos depois é finalmente libertado e parte em busca da verdade.

Friday, January 20, 2006

A 7.ª informa

Na passada 5.ª feira (19 de Janeiro), durante a projecção do terceiro filme incluído no ciclo Ao Largo #2 o imponderável aconteceu.
Por motivo de uma avaria inesperada do equipamento de projecção, ao qual a organização é completamente alheia, tornou-se impossível cumprir com a sessão dedicada ao filme ‘Hotel Ruanda’, pelo qual a 7.ª à 5.ª e o Cine-Teatro de Alcobaça gostariam desde já pedir a compreensão do público presente.
Neste sentido, a organização gostaria de convidar os cinéfilos alcobacenses para uma reposição do mesmo filme no próximo dia 31 – excepcionalmente, neste caso, à 3.ª feira, às 21:30h – como forma de ver cumprido a programação delineada para o ciclo.

Muito obrigado e os nossos cumprimentos
a todos os cinéfilos

A organização

Friday, January 13, 2006

Hotel Ruanda

Realizado por: Terry George
Canadá, Reino Unido, Itália, África do Sul, 2004
No ano de 1994 o mundo assistiu às imagens vindas de um longínquo (nas suas mentes, não em distância) país africano, denominado Ruanda. As imagens eram de uma crueldade tão extrema que pareciam mais ficcionais do que verdadeiras. Seria possível que centenas de milhar de pessoas estivessem a ser mortas à catanada sem ninguém intervir? Certamente que não. Infelizmente era isso mesmo que se passava.


Esta é a história verídica de Paul Rusesabagina, o gerente de um hotel, que conseguiu salvar não só a família mas também os milhares de refugiados que aí se abrigaram...



Ver Hotel Ruanda é levar um murro no estômago. É lembrar-nos que vivemos num mundo de egoísmo onde não se dá nada sem esperar algo em troca. Onde nem todos são iguais. E onde atrocidades como as que se viveram no Ruanda podem acontecer em qualquer lado, porque simplesmente as pessoas não se interessam. Ver Hotel Ruanda é ver a nossa vergonha espelhada nas faces de quem tanto sofreu...

Monday, January 09, 2006

Sideways

Realizado por Alexander Payne
EUA, Hungria, 2004

Miles (Giamatti) é um professor de inglês, apreciador de vinhos, divorciado, que espera a qualquer momento a sua oportunidade de editar um livro. O melhor amigo de Miles, Jack (Haden Church) é um actor reduzido a fazer voz-off em anúncios, e está prestes a casar.

Para celebrar essa última semana de liberdade, Miles leva Jack numa viagem pela região vinícola da Califórnia. Mas Jack está mais interessado nos prazeres da carne que nos da bebida e nesta viagem conhece Stephanie, com quem inicia uma atribulada relação. Miles, por sua vez, ainda emocionalmente preso à sua ex-mulher, vê a possibilidade de retornar à superfície com Maya (Madsen), especialmente seduzido pela forma como ela aprecia e entende o vinho.

Sideways é um road movie que marca o ritual de passagem à idade adulta, entendida como a altura em que aprendemos a enfrentar os nossos medos, a aceitarmos os outros e a nós mesmos, e em que descobrimos o que queremos da vida. Como um vinho que atinge a maturidade, é na meia-idade que estamos prontos a ser abertos e bebidos. Ou melhor, a abrirmo-nos e a beber a vida.

Sideways flui com os desejos e necessidades das personagens, sem querer provar nada, sem querer confrontá-los com os seus erros ou redimi-los dos mesmos. Este filme tocará quem já se tenha sentido frustrado ou olhado o largo abismo entre a montanha das suas ambições e o fundo vale da sua realidade.

Monday, January 02, 2006

Mar Adentro

Realizado por Alejandro Amenábar
Espanha, 2004

MAR ADENTRO é um filme belo, inteligente, arriscado e narrativamente muito bem construído. Confirma o talento de Alejandro Amenábar, que pela primeira vez faz um filme sobre seres humanos verdadeiros e sobre um tema social de enorme importância: a eutanásia. Amenábar recupera o caso de Ramón Sampedro, marinheiro que sofreu um acidente aos 25 anos e ficou condenado a viver imóvel numa cama (“Sou apenas uma cabeça agarrada a um corpo morto”), dependendo da generosidade e atenção dos seus familiares. Ramón quis acabar com esse suplício (“Para mim, esses metros necessários para chegar até a ti e poder tocar-te são uma viagem impossível, uma quimera, um sonho! Por isso quero morrer”).

Lutando por uma morte digna, luta nos tribunais, publica um livro que defende a eutanásia, aparece na televisão, mas só com a ajuda de uns amigos anónimos consegue beber a dose de cianeto necessária. Filma o momento da sua morte para que fique como testemunho da sua luta: “Considero que viver é um direito, não uma obrigação, como foi para mim, obrigado a suportar esta situação penosa durante 29 anos, quatro meses e alguns dias. Passado este tempo, fazendo um balanço do caminho recorrido não vejo os momentos de felicidade”. (...)

Amenábar e Mateo Gil teceram um filme apaixonante em que a emoção convive com o humor do próprio Ramón Sampedro. Sem fugir do fio condutor principal, souberam enriquecer a narrativa com pinceladas de uma vitalidade tão contagiosa que o espectador alterna entre o sorriso e a lágrima, desfrutando de cada minucioso detalhe. (...)

Todos os actores são admiráveis, magníficos, começando por Javier Bardem, que realiza um dos seus trabalhos mais difíceis e brilhantes, desde a composição física à pronúncia galega, continuando com Lola Dueñas, a vizinha amiga, Mabel Rivera, a cunhada (de onde saiu este assombro de actriz?), Joan Dalmau, o padre, Celso Bugallo, o irmão, Tamar Novas, o sobrinho, Bélen Rueda, a advogada, José María Pou... (...)

Belíssimo. Excepcional. Um filme imprescindível.
in El País

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Janeiro | Ciclo "Ao Largo #2"

Neste início de 2006, começamos com uma reedição do ciclo "Ao Largo", que tanto sucesso teve o ano passado, com a exibição de uma eleição de filmes que escaparam ao circuito de cinema comercial local. O reconhecimento público que em 2005 estes filmes mereceram por parte da crítica e do público levam a que possam agora ser vistos pelos cinéfilos mais aguerridos. Nesta selecção foi possível reunir 4 longas metragens contextualizando diferentes pontos do mundo que actualmente representam, em certa medida, outras tantas vertentes da globalização da produção cinematográfica: Europa, América do Norte, África e Ásia.
05_01:
"Mar Adentro" de Alejandro Amenábar
12_01:
"Sideways" de Alexander Payne
19_01:
"Hotel Ruanda" de Terry George
26_01:
"Oldboy - Velho Amigo" de Chan-Wook Park

Tuesday, December 27, 2005

A Sede do Mal

Realizado por Orson Welles
EUA, 1958

Um filme negro que nos dá um retrato cru dos meandros da corrupção e das imputações morais que daí advêm, na pessoa de Hank Quinlan. Hank é um polícia corrupto que envolve um jovem mexicano num intricado enredo criminoso. Charlton Heston é Ramon Vargas, um honesto agente do departamento mexicano da luta contra o tráfico de droga cujos movimentos colidem com os dúbios interesses de Hank. Uma obra empolgante em ambiente visual e sonoro intenso que conta com um luxuoso elenco secundário composto por Janet Leigh - a indiscreta mulher de Ramon -, Akin Tamiroff - o líder traficante -, Zsa Zsa Gabor e Marlene Dietrich - a enigmática cigana.

Wednesday, December 21, 2005

A Dama de Xangai

Realizado por Orson Welles
EUA, 1948

Crimes desconcertantes, fascinantes reviravoltas na história e um notável trabalho de câmara contribuem para este clássico, escrito, realizado e interpretado por Orson Welles.

Welles interpreta o papel de um homem inocente, contratado para trabalhar no iate do marido de uma mulher fatal (Rita Hayworth), que se vê envolvido numa perigosa teia de intriga e morte.

Sujeito a uma grande controvérsia e escândalo após a sua estreia, A Dama de Xangai chocou os espectadores de 1948 ao apresentar Hayworth com o seu flamejante cabelo ruivo cortado e pintado de louro, cor de champanhe.

Cinquenta anos mais tarde, A Dama de Xangai é considerado um Welles de qualidade superior, com o seu famoso final na sala dos espelhos saudado como uma das sequências mais extraordinárias da história do cinema.

Wednesday, December 14, 2005

O Mundo a Seus Pés / Citizen Kane

Realizado por Orson Welles
EUA, 1941
O Mundo a Seus Pés/ Citizen Kane" (1941), a primeira obra (e obra-prima absoluta) de Orson Welles (1915-1985), eterno vencedor das listas cíclicas de melhores filmes de todos os tempos. A história do magnata Charles Foster Kane (uma figura inspirada em William Randolph Hearst) e do enigma de "Rosebud" é um dos momentos mais marcantes da história da 7a Arte, salto qualitativo que revolucionou a linguagem cinematográfica, quer pela sublimação de técnicas anteriores - como os fundidos -, quer pelo avanço, em apoteose, de matéria nova (os planos- sequência, por exemplo).
Um clássico que revolucionou a indústria artística, nos seus reflexos de testemunho e de onirismo. A partir dele, nada se adiantou - sobre os desígnios do poder, a influência dos meios de comunicaçao, a vagabundagem visionária, os mistérios e os fantasmas da infância...

Tuesday, December 06, 2005

Orson Welles Sells His Soul to the Devil

por Jay Bushman

7ª. à 5.ª continua...

Já lá vai quase um ano que a 7.ª à 5.ª, em estreita ligação com a autarquia e tendo como ponto de partida o Cine-Teatro de Alcobaça, se tem vindo a afirmar como um espaço alternativo ao circuito comercial comunicando outras tendências e sentimentos em redor do cinema. Como um pólo seguro de animação de ciclos temáticos, com uma expressão de característica assumidamente pedagógica e de entretinimento, esta iniciativa está para continuar e durar, iniciando uma nova fase no início do ano de 2006, precisamente, quando em Fevereiro completar um ano de existência.

Ao longo do seu processo de evolução natural foram introduzidas algumas novas mais-valias das quais se destaca, desde já, a integração de uma equipa de colaboradores fixos na área do design de comunicação - pela arte e criatividade da tripla alcobacense Davide Silva, Joel Jerónimo e Pedro Rebelo (Velcro Graphic Design) - cujo contributo se tem demonstrado fundamental na requalificação da própria imagem da 7.ª à 5.ª , bem visível ao nível do “novo” grafismo dos cartazes ou na concepção visual do blog. De salientar, igualmente, a ampliação da equipa organizadora e programadora integrando também ela mais um elemento (António Lameiras).

Em termos de programação, prevêem-se novidades a partir de Fevereiro de 2006, começando desde logo com a intenção de introdução de novos formatos ao nível da divulgação e difusão dos ciclos e com a possibilidade de integração de mais colaborações quer a nível institucional como individual. Até lá, o ano acaba da melhor maneira com um ciclo dedicado a um dos grandes mestres do cinema: Orson Welles. No início de 2006, haverá espaço ainda para uma reedição do ciclo “Ao Largo”, que tanto sucesso teve em 2005, permitindo a exibição de uma selecção de filmes emblemáticos estreados no corrente ano e que escapando ao circuito de cinema comercial local podem agora ser vistos pelos cinéfilos de Alcobaça e arredores.

A 7.ª à 5.ª continuará deste modo a pugnar em Alcobaça por uma acção que passa pelo estímulo do gosto, contemplação, reflexão e debate em torno da 7.ª Arte e por uma maior aderência do público e da comunidade ao universo do cinema de qualidade.
[alberto guerreiro, antónio lameiras, milton dias]

Friday, November 25, 2005

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Dezembro | Ciclo "Welles - à sombra do mito"

15_12:
"O Mundo a Seus Pés" de Orson Welles

22_12:
"A Dama de Xangai" de Orson Welles

29_12:
"A Sede do Mal" de Orson Welles

Monday, November 21, 2005

Em Órbita: "Carmen" ou o amor louco por uma espanhola

Realizado por Vicente Aranda
Espanha, Grã-Bretanha, Itália, 2003
Carmen (Paz Vega) é uma espanhola que tem o dom de conseguir tudo o que pretende dos homens, principalmente do sargento José, que, devido a paixão, acaba por transformar por completo a sua vida.
Prosper Mérimée, um escritor francês, é a testemunha da história entre a bela e enigmática Carmen e o sargento José. Devido a uma intensa paixão, a espanhola consegue que o seu amante faça tudo o que quer, inclusive matar. «Carmen» é, antes de tduo, um filme de fatalidade, ciúme, paixão e sangue.

Monday, November 14, 2005

Fausto 5.0

Realizado por Isidro Ortiz, Alex Ollé e Carlos Padrissa
Espanha, 2001

A caminho de uma convenção de médicos, o Dr. Fausto encontra um homem que afirma que o doutor lhe removeu o estômago oito anos antes. Contra toda a lógica, ainda está vivo. O homem promete realizar todos os desejos de Fausto e a linha entre a realidade e a ficção começa a desvanecer.
Se há desejos que se convertem em pesadelo, o mito de Fausto e da aspiração à vida eterna, pode bem ser um deles. Porque não é em vão que se vende a alma ao Diabo, mesmo que em troca da imortalidade.
Nota: Um dos filmes europeus mais premiados dos últimos anos: Méliès d´Or 2002 – Melhor Filme Europeu de Cinema Fantástico; Prémio Goya (Prémios do Cinema Espanhol) Melhor Actor; Prémio Raven de Prata do Festival Internacional de Cinema Fantástico de Bruxelas; Grande Prémio do Festival Europeu de Cinema da Finlândia (Espoo); Melhor Actor e Melhor Filme da Secção Oficial Cinema Fantástico, do Festival Internacional de Cinema do Porto – Fantasporto 2002.
Filme encarado como o mito de Fausto reinventado, tendo como particularidade a inclusão, na direcção, de dois membros da companhia catalã, La Furia Dels Baus; participação essa facilmente reconhecível na própria estética do filme.

Monday, November 07, 2005

Às Segundas ao Sol

Realizado por Fernando Léon de Aranoa
Espanha, 2002

Uma cidade portuária no Norte, que há muito tempo voltou as costas ao campo e que se rodeou de indústrias que a fizeram crescer desproporcionadamente, que alimentaram a imigração e desenharam um horizonte de chaminés, de esperanças, de futuros desenraizados.


Um grupo de homens todos os dias percorre as suas ruas, procurando as saídas de emergência.

Trapezistas de fim de mês, e de início de mês também, trapezistas sem rede, sem público, sem palmas no final, que caminham diariamente pela corda bamba do trabalho precário, que aguentam a sua existência com andaimes de esperança e que se refugiam nas suas poucas alegrias, como se o naufrágio de que tentam salvar-se diariamente não fosse o seu, enquanto falam das suas coisas e se riem, de tudo e de nada em especial, esperançosos, tranquilos, na manhã de uma segunda-feira ao sol.

Mais info: aqui

Friday, October 28, 2005

Dou-te os Meus Olhos

Realizado por Icíar Bollaín
Espanha, 2003

Filme sobre a violência doméstica, é a história de uma mulher, Pilar, que, numa noite de Inverno foge de casa. Consigo, leva somente o filho e umas quantas coisas. Pilar sabe que o marido vai procurá-la. Ela é tudo para ele, é o seu sol. E ele diz que foi ela que lhe deu os seus olhos. Ao longo do filme, as personagens vão rescrevendo este livro de família no qual está escrito quem é quem e quem deve fazer o quê, mas onde também todos os conceitos estão errados – onde diz lar lê-se inferno, onde diz amor lê-se dor e quem promete protecção só oferece terror.

Tuesday, October 25, 2005

...


Friday, October 21, 2005

Novembro | Ciclo "Para Além de Almodóvar - o outro cinema de autor espanhol"

03_11:
"Dou-te os Meus Olhos" de Icíar Bollain

10_11:
"Às Segundas ao Sol" de Fernando Léon de Aranoa

17_11:
"Fausto 5.0" de Isidro Ortiz, Alex Ollé e Carlos Padrissa


24_11 - Em Órbita (sessões especiais da 7.ª à 5.ª):
"Carmen" de Vicente Aranda

Wednesday, October 19, 2005

Notas de Kitano

As inspirações

“Quando ainda era um aspirante a actor em Asakusa (um bairro popular de Tóquio) vi, um dia, um homem e uma mulher unidos um ao outro por uma corda. Os moradores do bairro chamavam-lhes "os mendigos errantes". Havia uma série de rumores sobre o assunto, mas ninguém sabia verdadeiramente como é que eles se tinham tornado vagabundos. A visão destes dois mendigos errantes ficou gravada no meu espírito e sempre quis realizar um filme com personagens como eles. Decidi ligar esta história com duas outras. A ideia de cada história surgiu a partir de coisas que vi e ouvi no passado, as histórias típicas dos japoneses.”

Fazer escolhas

”Se for objectivo, posso afirmar que todas as personagens são muito egoístas. "Fazer uma escolha" significa que à partida temos duas opções. Mas em DOLLS todos os protagonistas estão possuídos pelo seu próprio egoísmo e cada um deles tem a sua pequena ideia do caminho que querem seguir e que atitude têm de assumir em consequência disso. Eles não fazem realmente escolhas porque são incapazes de ver outras soluções. Nenhum dos acontecimentos do filme poderia acontecer se as personagens fossem suficientemente equilibradas para "fazer escolhas". Sendo objectivo, as personagens podem parecer estúpidas, mas elas próprias não se vêem seguramente desta forma.”

As paisagens

”Filmei paisagens absolutamente magníficas, mas queria que tivessem uma certa crueldade. Algumas são de uma beleza extrema como se estivessem à beira da morte, como as flores de cerejeira totalmente abertas no último minuto antes de caírem ou as folhas de ácer que se vestem com as mais belas cores antes de secarem e caírem. Esta crueldade subentendida pode ser aumentada pela presença de personagens à beira da morte... Quando filmo o mar, muito luminoso no Verão, prefiro ter lá um homem velho, abatido pela vida, por exemplo um patrão que acabou de ir à falência, que pensa em suicidar-se ao olhar o mar, em vez de uma família feliz que está a fazer um piquenique na praia. Ou quando filmo um cerejal, prefiro ter lá um soldado da Segunda Guerra Mundial em vez de um grupo de amigos que o contemplam. Poderia ilustrar o que cada imagem representa, mas também é importante não o fazer. Se virem DOLLS e disserem: "Oh, que imagens tão bonitas", ficarei contente. Dito isto, não me importo que procurem um simbolismo nas cerejeiras em flor, no mar de Verão ou nas folhas vermelhas do Outono.”

Tuesday, October 18, 2005

O Bunraku

DOLLS homenageia a beleza do Bunraku com um excerto de uma representação do Teatro Nacional de Tóquio. A peça interpretada é a história dos amantes malditos de Monzaemon Chikamutsu, Meido No Hikyaku (O Mensageiro dos Infernos).

O teatro de marionetas Bunraku faz parte dos três géneros teatrais principais do Japão, juntamente como Kabuki e o Noh.

A intensidade dramática do Bunraku depende da perfeita organização de três elementos: as marionetas, a narração e a música. Cada marioneta é manobrada por três homens (têm geralmente um metro de altura, são feitas em madeira e pensam entre os 5 e os 20 quilos). Uma perfeita simbiose dos três manipuladores de marionetas é fundamental para dar vida à marioneta. As regras, muito estritas, devem ser respeitadas e nenhum manipulador pode representar independentemente.

Os manipuladores estão em palco, em frente ao público. O principal manipulador aparece de rosto descoberto enquanto os outros são "invisíveis" sob um capuz negro, mostrando desta forma que a marioneta é o actor principal.

Num estrado à direita do palco, o narrador (tayu) recita o texto épico e poético (joruri). Não só conta a história, mas faz também a voz de canta marioneta: mulheres, homens, crianças. Interlúdios e o acompanhamento musical são assegurados por um tocador de shamisen, um instrumento antigo com três cordas.

A história do Bunraku começou no século XVI e popularizou-se no século XVII. Desde 1966 que o Teatro Nacional de Tóquio acolheu o Bunraku. Em 1985, o Teatro Nacional Bunraku foi criado em Osaka. Para além das representações anuais nestas duas cidades, espectáculos itinerantes fizeram o público internacional descobrir o Bunraku.

Apesar do seu sucesso, o envelhecimento dos técnicos (costureiros, fabricantes de marionetas,...) e a falta de pessoas para os substituir representam um problema para o futuro desta arte com mais de 300 anos.

Monday, October 17, 2005

Em Órbita do Fio Solto: Dolls

Realizado por Takeshi Kitano
Japão, 2002

DOLLS reagrupa três histórias de amor inspiradas no Bunraku, teatro de marionetas japonês.

Na primeira história, Matsumoto e Sawako são um casal feliz, mas as pressões das respectivas famílias obrigam-nos a escolher um destino trágico. Para proteger Sawako, Matsumoto liga-se a ela para sempre, unindo os corpos com uma faixa vermelha. Erram sem destino. Procuram aquilo que esqueceram. Uma viagem que vai durar o tempo de quatro estações.

Na segunda história, Hiro, um yakuza, regressa a um parque onde costumava encontrar a namorada. Trinta anos antes, era pobre e viu-se obrigado a separar-se da bela rapariga para abraçar o mundo do crime.

Na terceira história, Hakuma, cujo rosto está coberto com faixas, passa muito tempo a olhar o mar. Pouco tempo antes, ela era uma grande estrela da música que passava a vida a dar autógrafos e a aparecer na televisão. Nukui é o seu maior fã e está disposto a prová-lo.

Três histórias inspiradas nas emoções eternas do teatro Bunraku.

Três histórias delicadamente enlaçadas pela beleza da tristeza.

Três histórias de amor imortal.


Monday, October 10, 2005

Muppets

Realizado por Jim Henson

Os Marretas, simpáticos bonecos que fizeram as delícias de todos os que hoje têm mais de 20 anos, estão de volta! As personagens, originalmente baptizadas como “The Muppets”, são as estrelas principais desta divertida sessão.

Dopamina (antestreia nacional)

Curta-metragem de Fábio Ribeiro

É a história de um homem que ao ser alienado pela sociedade devido a uma suposta condição clínica, é consumido pelas drogas e pela revolta até que finalmente quebra e comete a verdadeira loucura. O filme retrata-o a reviver na sua mente as memórias e sentimentos fragmentários mais importantes desse período da sua vida, sempre com um toque de loucura.

Wednesday, October 05, 2005

Team America - Polícia Mundial

Realizado por Trey Parker

EUA, 2004


Team America, uma força internacional destinada a manter a estabilidade global, descobre que um ditador sedente de poder está a fornecer armas de destruição maciça a terroristas. Os heróis embarcam uma incrível missão para, naturalmente, salvar o mundo. O resto é indescritível, ou não fosse o filme da autoria dos criadores de «South Park»...

Tuesday, October 04, 2005

...

Monday, October 03, 2005

8.º Festival Nacional de Teatro de Marionetas

Outubro | Ciclo “Fio Solto. Na Vida das Marionetas”

Integrado na 8.ª edição do Festival Marionetas na Cidade, em parceria com os S.A. Marionetas, a 7.ª à 5.ª apresenta um pequeno ciclo totalmente dedicado ao universo do teatro de marionetas. Quatro propostas de ficção, nacional e estrangeira, sob o formato de curta e longa-metragem, preenchem uma mostra cinéfila pouco convencional que vai desde o registo mais mediático até ao mais intimista e artístico. É oportunidade ainda para visualizar a mais recente produção nacional do género com a exibição de “Dopamina” de Fábio Ribeiro e que apresenta a particularidade de ter José Gil (S.A. Marionetas) na manipulação das marionetas utilizadas na curta.

06_10:
"Team América – Polícia Mundial" de Trey Parker.


13_10:
"Dopamina" de curta-metragem de Fábio Ribeiro


Em órbita (sessões especiais da 7.ª à 5.ª)

20_10:
"Dolls" de Takeshi Kitano

Monday, September 26, 2005

Em Órbita do 9.11 - Terra da Abundância

Realizado por Wim Wenders

EUA, 2004

Paul é um veterano de guerra que sofre de paranóia. Após o 11 de Setembro, convence-se que a América está em guerra e começa a patrulhar as ruas de Los Angeles.Lana regressa aos EUA numa missão católica de apoio aos sem-abrigo...e para encontrar Paul, o seu tio.

Apesar das diferenças entre os dois, o assassinato de um sem-abrigo paquistanês, que testemunham involuntariamente, vai aproximá-los...

Monday, September 19, 2005

Persona Non Grata

Realizado por Oliver Stone

EUA, França, Espanha, 2003, Doc.

Nos dezoitos meses que se seguiram ao fracasso da tentativa de estabelecer a paz permanente, em Camp David, no ano 2000… israelitas e palestinianos mergulharam numa espiral de violência aparentemente impossível de deter.. Ambos milhares sofreram milhares de baixas.

Este é um testemunho cru, isto é, não há grandes considerações sobre o que antecedeu a actual situação, nem os cenários possíveis, Stone centra-se no dia-a-dia de cidades como Ramalah e a posição oficial de cada uma das partes intervenientes. O documentário tem como protagonistas antigos primeiros-ministros israelitas, Shimon Peres, Ehud Barak e Benjamin Netanayu, os diplomatas europeus, Miguel Maratinas e Christian Jereut, Hasan Yosef, porta-voz do Hamas, membros da Brigada de Mártires Al Aqsa, o historiador Meir Pail e o ministro de segunaça pública de Israel, Gideon Ezra. A figura de Yasser Arafat é presença constante ao longo do documentário, pois Stone mostra-nos as dificuldades em estabelecer contacto com ele e a única vez que se encontra com ele, é para figurar ao lado de outros artistas, pintores e escritores, como o português José Saramago.

Este documento fica marcado por ter sido realizado aquando do massacre de Pasadena, onde morrem 28 israelitas em função de um atentado suicida, nos dias seguintes assiste-se à resposta israelita com a destruição do quartel-general de Arafat.

“Persona Non Grata” é acima de tudo um conversa frente a frente com as pessoas que tiveram ou têm capacidade para solucionar o problema ou não…

Monday, September 12, 2005

Fahrenheit 9/11 ou Mooretainment

Realizado por Michael Moore
EUA, 2004, Doc.

Michael Moore já não é apenas “aquele tipo gordo que fez um filme assim e assado sobre uma escola”. Moore é já o realizador de intervenção, o oscarizado, o vencedor de Cannes. O eleito de Tarantino. O anti-Bush. E Moore não está de regresso para procurar provas ou verdades, mas simplesmente para opinar sobre a América (uma vez mais), os seus líderes e o poder global. Goste-se ou não. Concorde-se ou não. Isto não ‘entertainment’ nem é Documentário. Nem é também Entertainmentary. Chamemos-lhe talvez, e mais ajustadamente: Mooretainment.



Polémico vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes 2004, Fahrenheit 9/11 é um documentário - no qual Michael Moore analisa a actuação da administração de George W. Bush depois dos trágicos acontecimentos de 11 de Setembro - "mockumentary" (filme de ficção, muitas vezes cómico e de paródia, apresentado como um documentário) ou pura propaganda, consoante a opinião.

Wednesday, September 07, 2005

O teatro do bem e do mal

Na luta do Bem contra o Mal, é sempre o povo que apanha as favas. Os terroristas mataram trabalhadores de sessenta países em Nova Iorque e Washington, em nome do Bem contra o Mal. E em nome do Bem contra o Mal, o Presidente George Bush jurou vingança: “Vamos eliminar o Mal deste mundo”, anunciou.

Eliminar o Mal? O que seria do Bem sem o Mal? Não são só os fanáticos religiosos que precisam de inimigos para justificar a sua existência. Os bons e os maus, os maus e os bons: os actores trocam de máscaras, os heróis tornam-se monstros e os monstros heróis, segundo as exigências daqueles que escrevem o drama.

Não há nada de novo nisto. O cientista alemão Werner Von Braun foi mau quando inventou os foguetes V-2 que Hitler lançou sobre Londres, mas passou a ser um bom no dia em que começou a dirigir o Império do Mal. Nos anos da Guerra Fria, John Steinbeck escreveu: “Pode ser que toda a gente precise de russos. Aposto que até na Rússia eles precisam de russos. Talvez lhes chamem lá americanos”. Depois os russos tornaram-se os bons. Hoje, Vladimir Putine diz também:”O Mal deve ser punido”.

Saddam Hussein era bom, assim como as armas químicas que utilizava contra os iranianos e os curdos. Depois, passou a ser mau. Passou a chamar-se Satã Hussein quando os Estados Unidos, que acabavam de invadir o Panamá, invadiram o Iraque porque o Iraque tinha invadido o Kowait. Bush pai encarregou-se desta guerra contra o Mal. Com o espírito humanitário e pleno de compaixão que caracteriza a sua família, matou mais de cem mil iraquianos, na sua maioria civis.

Satã Hussein continua no seu posto, mas este inimigo número um perdeu o lugar e já só é número dois. A praga do mundo chama-se agora Osama Bin Laden. A CIA ensinou-lhe tudo o que ele sabe em matéria de terrorismo: Bin Laden, amado e armado pelo governo dos Estados Unidos, era um dos principais guerreiros da liberdade contra o comunismo no Afeganistão.

Bush pai ocupava a vice-presidência quando o Presidente Reagan declarou que estes heróis eram “o equivalente moral dos pais fundadores da América”. Hollywood estava de acordo com a Casa Branca. Foi nessa época que se filmou o Rambo 3: os afegãos muçulmanos eram os bons. Hoje são os piores dos maus, no tempo de Bush filho, treze anos mais tarde.

Henry Kissinger foi um dos primeiros a reagir face à recente tragédia. “Tão culpados quanto os terroristas são aqueles que lhes deram apoio, financiamento e inspiração”, foi a sua sentença, retomada pelo Presidente Bush poucas horas mais tarde. Se assim é, devia-se começar por bombardear Kissinger. Ele será culpado de muitos mais crimes do que os cometidos por Bin Laden e por todos os terroristas que existem no mundo. E em muitos mais países: agindo por conta de vários governos americanos, levou “apoio, financiamento e inspiração” ao terrorismo de Estado na Indonésia, no Cambodja, no Chipre, nas Filipinas, na África do Sul, no Irão, no Bangladesh, e nos países sul-americanos que sofreram a guerra suja do Plano Condor.

A 11 de Setembro de 1973, vinte e oito anos antes das chamas recentes, ardia o palácio presidencial no Chile. Kissinger tinha antecipado o epitáfio de Salvador Allende e da democracia chilena, comentando os resultados das eleições:”Nós não podemos aceitar que um país se torne marxista por causa da irresponsabilidade do seu povo”.

O desprezo pela vontade do povo é uma das muitas coincidências entre o terrorismo de Estado e o terrorismo privado. Por exemplo, a ETA, que mata em nome da independência do País Basco, diz através de um dos seus porta-vozes:”Os direitos não têm nada a ver com maiorias e minorias”.

Há muitos pontos comuns entre terrorismo artesanal e o terrorismo de alto nível tecnológico, entre o dos fundamentalistas religiosos e os fundamentalistas do mercado, o dos desesperados e o dos poderosos, o dos loucos isolados e o dos profissionais de uniforme. Todos partilham o mesmo desprezo pela vida humana: os assassinos dos cinco mil cidadãos esmagados sob os escombros das Torres Gémeas e os assassinos dos vinte mil guatemaltecos, na maioria indígenas, que foram exterminados sem que jamais a televisão ou os jornais do mundo lhes tenham prestado a mínima atenção. Esses, os guatemaltecos, não foram sacrificados por nenhum fanático muçulmano, mas pelos militares terroristas que receberam “apoio, financiamento e inspiração” dos governos dos Estados Unidos.

Todos os amantes da morte coincidem também na sua obsessão em reduzir a termos militares as contradições sociais, culturais e nacionais. Em nome do Bem, da Verdade única, todos resolvem tudo matando primeiro e levantando as questões depois. Deste modo, acabam por favorecer o inimigo que combatem.

Foram as atrocidades do Sendero Luminoso que prepararam o terreno do Presidente Fujimori, que, com um considerável apoio popular, implantou um regime de terrror e vendeu o Peru por tuta-e-meia. Foram as atrocidades dos Estados Unidos no Médio Oriente que prepararam o terreno da guerra santa do terrorismo de Alá.

Embora agora o líder da civilização exorte a uma nova cruzada, Alá está inocente dos crimes que se cometem em seu nome… afinal de contas, Deus não ordenou o holocausto nazi contra os fiéis de Jeová e não foi Jeová quem ditou o massacre de Sabra e Chatila, nem quem mandou expulsar os palestinianos da sua terra.

Uma tragédia de equívocos: já não se sabe quem é quem. O fumo das explosões faz parte de uma cortina de fumo bem mais espessa ainda, que nos impede de ver. De vingança em vingança, os terrorismos obrigam-nos a caminhar titubeando. Olho uma fotografia recente: numa parede de Nova Iorque alguém escreveu: “O olho por olho torna o mundo cego”. A violência gera violência e também a dor, o medo, o ódio e a loucura.

Em Porto Alegre, no início do ano, o argelino Ahmed Bem Bella avisava:”este sistema que já pôs as vacas loucas está a pôr as pessoas loucas”. E os loucos, loucos de ódio, agem da mesma maneira que o poder que os gerou. Luca, de três anos, comentava estes dias:”O mundo já não sabe onde fica a sua casa”. Estava a ver um mapa-múndi. Mas podia estar a ver o telejornal.

GALEANO, Eduardo,”O teatro do Bem e do Mal”, O Império em guerra, Porto, Campo das Letras, 2002.

11 Perspectivas de um só drama

Tal como o nome sugere, não se trata de um filme, mas antes um conjunto de onze pequenas obras cinematográficas - de outros tantos autores – apresentadas sequencialmente e orquestradas sob a batuta do maestro do projecto, o reputado cineasta francês Claude Lelouch.

Partindo do atentado contra o World Trade Center, a obra não se restringe à inspiração dos trágicos eventos do 11 de Setembro de 2001. Tem o especial condão de ser, que se saiba, o primeiro olhar cinematográfico a que os acontecimentos daquele dia deram origem. A primeira constatação, inevitável, é a heterogeneidade de estilos evidenciada na arte de filmar.

A liberdade na concepção das curtas-metragens, desde logo apresentado pela produção como um objectivo primordial, acaba por se traduzir naturalmente nos trabalhos filmados pelos onze cineastas.

À partida, não se esperaria que um realizador do Burkina-Faso ou do Irão dispusesse dos mesmos expedientes (sobretudo ao nível da produção) dos seus colegas europeus da França ou Inglaterra e essa diferença de cadências produtivas acaba mesmo por se revelar um dos pontos de maior interesse nesta obra de conjunto.

Por outro lado, uma outra evidência salta à vista. Apesar do rol de realizadores preencher os vários cantos do mundo (Europa Ocidental e Oriental, América do Norte e Central, Norte de Africa e Austral, Extremo Oriente e Sudeste Asiático), não deixa de ser notório a falta de um representante da América do Sul (o México acaba por ser o único consignatário latino americano, com um cinema cada vez mais próximo do vizinho do norte que do universo cinematográfico reconhecido a sul das Caraíbas).

De resto, dos países envolvidos no projecto constam: Irão, França, Israel, India, Egipto, México, EUA, Inglaterra, Burkina-Faso, Bósnia-Herzegovina e Japão. Podemos mesmo afirmar, que 11 Perspectivas apresenta-se assim como um autêntico festival cinematográfico e multicultural inserido numa só obra. 11 perspectivas de autor (entre eles alguns nomes bem emblemáticos como Chahine, Lelouch, Loach ou Imamura) de um só drama.

alberto guerreiro | milton dias

11'09"01 – 11 Perspectivas

Realizado por Youssef Chahine, Amos Gitai, Shohei Imamura, Claude Lelouch, Ken Loach, Mira Nair, Idrissa Ouedraogo, Sean Penn, Samira Makhmalbaf, Danis Tanovic, Alejandro González Iñárritu.

França / Reino Unido, 2002

11 realizadores de 11 países filmam 11 curtas de 11 minutos e 9 segundos sobre o 11 de Setembro. 11 olhares diferentes de um pouco de todo o mundo.

Wednesday, August 24, 2005

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Tuesday, August 23, 2005

Setembro | Ciclo "9.11 – A Guerra dos Mundos"

08_09:
"11'09"01 – 11 Perspectivas " de Youssef Chahine, Amos Gitai, Shohei Imamura, Claude Lelouch, Ken Loach, Mira Nair, Idrissa Ouedraogo, Sean Penn, Samira Makhmalbaf, Danis Tanovic, Alejandro González Iñárritu.

15_09:
08_09:
"Fahrenheit 9/11
" de Michael Moore

22_09:
"Persona Non Grata" de Oliver Stone

Em órbita (sessões especiais da 7.ª à 5.ª)
29_09:
"Terra da Abundância" de Wim Wenders

Monday, July 25, 2005

EM ÓRBITA do DOGMA 95: Europa – Lars von Trier

Em órbita do ciclo Dogma 95, apresenta-se o primeiro grande filme de um dos seus fundadores. Longe da génese do movimento, Europa de Lars von Trier reflecte no entanto grande parte dos fundamentos estéticos e conceptuais da obra deste autor dinamarquês. A visão experimentalista e dogmática sobre o cinema, que influenciará o próprio movimento pela mão de Trier estão aqui bem presentes.

Europa

Em 1991, um filme causou sensação pela sua qualidade plástica e conceptual. Esse filme foi sem dúvida alguma Europa de Lars von Trier. Deu a conhecer ao mundo um novo mestre do cinema que mesmo antes já tinha marcado presença significativa no contexto audiovisual com dois registos televisivos importantes: Medeia (1987) e Epidemia (1988). No entanto, estas duas produções, de amplitude mais restrita, só teriam o seu reconhecimento depois do aparecimento de Europa quando este ganhou o grande prémio do júri de Cannes.

A personagem principal de Europa (magistralmente interpretada por Jean-Marc Barr), um jovem americano nascido na Alemanha, regressa à terra natal para ajudar à reconstrução do pós-guerra, acabando por se embrenhar numa epifania simultaneamente individual (em que se conhece a si próprio) e colectiva, do estado/nação/continente à deriva. A Europa e a consciência de ser europeu são temas recorrentes em Trier: está presente logo no seu primeiro registo filmado, em Elemento do Crime (1982) onde neste thriller psicológico a Europa é tida como um só país.

Trier é um seguidor confesso de Carl T. Dryer (1889 - 1968), um dos expoentes máximos dos primórdios do cinema europeu e a grande referência clássica do cinema dinamarquês. A reverência está presente de forma evidente não só ao nível plástico (estético) mas igualmente ao nível formal e conceptual na elaboração de histórias pesadas, dando enfoque ao lado mais negro da existência humana e na construção de enredos que enaltecem o desencanto do mundo cujos finais parecem constituir nenhuma esperança. Europa, é um dos grandes exemplos dessa herança artística e cultural. Mas Trier é igualmente um cinéfilo assumido. Europa, por exemplo, faz homenagem à cinematografia surrealista de inicio do século XX de Buñuel e Rene Clair.

O filme suplanta tudo e todos através da narração (a voz pausada de Max von Sydow), de teor descritivo e ambição hipnótica, que contribui para a criação de um tom fabular cada vez mais contrastante à medida que o filme avança. A fábula encarnada no personagem principal, é o do próprio “velho continente” que se afunda – personificada no afogamento de Leopold Kessler - no momento em que é dada a destruição da sombria Alemanha nazi ergue-se uma nova ordem mundial. Nasce, nesse instante, uma nova Europa!

Thursday, July 21, 2005

O Dogma segundo Lone

Aos 42 anos, Lone Scherfig é autora de dois filmes memoráveis na esfera cinéfila (The Birthday Trip e On Our Own). Assinou também vários trabalhos para a rádio, televisão e teatro. Hoje, o seu belo ITALIANO PARA PRINCIPIANTES ganhou o Urso de Prata do último festival de Berlim.

O que é que a seduzia na realização de um filme Dogma?

Lone Scherfig – Primeiro, poder fazer o que queria. (...) Depois, a ligeireza da produção. Do primeiro dia do argumento até ao último dia de montagem, as coisas desenrolaram-se incrivelmente rápido. Não tive que sofrer o peso de uma produção “normal” onde, por vezes, ficamos vários dias a rodar uma cena de um minuto.

Lars von Trier interveio muito?

Lone Scherfig – Estudámos na mesma escola de cinema. Pertencia ao ano anterior ao meu. Produziu também uma das minhas séries de televisão. Lars comportou-se comigo como um colega. É um excelente produtor. Conhece de cor as três versões sucessivas do argumento. E pode dar-me conselhos sensatos sobre o sítio em que colocar esta ou aquela cena.

O seu filme prefere o humor ao drama...

Lone Scherfig – O que eu temo sobretudo é a pretensão. Em ITALIANO PARA PRINCIPIANTES, tentei fugir à tristeza e ao sentimentalismo, mesmo que o meu filme, de facto, seja verdadeiramente triste e sentimental. Mas se o chega a ser, é porque eu desejei que nada fosse insistente... Quando trabalho, de qualquer modo, gosto de rir. Então, crio uma atmosfera de felicidade no plateau. É como quando um médico nos dá uma injecção. Ele sabe que vai magoar-nos, então prefere pôr-nos de bom humor.

Porque este fascínio pela Itália?

Lone Scherfig – Fantasma escandinavo... Mas, enfim, tinha vontade de filmar em Veneza. E depois, sempre amei o cinema italiano: Rossellini, Fellini...


O. D. B., Première

Janeiro 2002

Wednesday, July 20, 2005

Entrevista: Lone Scherfig

Como surgiu a ideia para esta história?

Lone Scherfig – “A Festa” impressionou-me muito tal como o seu sucesso merecido. A simplicidade das regras do Dogma parece-me uma boa maneira de construir um filme ligeiro tanto no plano da rodagem como o do argumento. A história pode parecer simples: ela é como a terra que é enriquecida pelo trabalho dos actores para chegar mais longe na verdade das personagens. Para além dos seis actores, foi também o local da rodagem que deu origem ao aspecto de “pequena cidade” desta comunidade de destinos. Foi tudo filmado à volta de Filmbyen.

Cada personagem do filme perde algo ou alguém. Qual é para si o preço da vida?

Lone Scherfig – O filme comporta um aspecto dramático e um aspecto cómico. Dramático porque as dificuldades que as minhas personagens encontram dão esse tom: amar alguém e dizer-lhe é sem dúvida a verdadeira questão de todas as personagens e não é uma questão fácil. Cómico porque as personagens são seres humanos por inteiro, ou seja com uma real complexidade. É o olhar que eu tenho sobre eles que faz pender a balança para um lado ou para outro. Por exemplo a personagem de Halvfinn, o empregado fã do clube de futebol Juventus. No início, no argumento, era um personagem mais resmungão, passando o tempo a dizer as verdades às pessoas. Depois, no filme, Halvfinn é divertido e impertinente. Traz muito dinamismo ao filme. Cada um deles é dramático e cómico. Se cada personagem perde alguém ou algo, encontra outra pessoa ou outra coisa no final do filme; cada um à sua maneira. O final do filme é um happy end sobre a possibilidade de serem eles próprios, apesar de tudo.

Através do seu filme, temos uma impressão de solidão que se desprende dos lugares, dos cenários, da paisagem...

Lone Scherfig – A impressão de solidão é provocada pelo facto de termos filmado no Inverno. Parece-me uma boa tela de fundo para realçar o que me interessa: as personagens. Queria que a atenção do espectador se concentrasse nas personagens e nas suas histórias. É uma implicação do espectador muito diferente da que provoca o star system. Um filme com as regras do Dogma mergulha o espectador num universo muito quotidiano. É isso que é interessante nesta aposta: cada espectador pode identificar-se com o conjunto das personagens e não apenas com uma delas. Como queria estar próxima deles, privilegiei o rosto dos actores. Não é um filme de paisagens mas sim um documentário dos sentimentos.

As regras do Dogma não alteram por completo a possibilidade de tornar belos os actores que filma...

Lone Scherfig – Penso que as regras do Dogma permitem dar tempo ao olhar. Os actores tornam-se então muito bonitos. Gosto muito deles.

No seu périplo a Veneza, no final do filme, há uma cama que permite uma cena romântica...

Lone Scherfig – Isso fez parte das surpresas fabulosas que as regras do Dogma permitem. Tudo está lá na vida e só preciso agarrá-lo, captá-lo. Em Veneza, quando Halvfinn e Karen vão para uma ruela afastados dos olhares, estava lá realmente uma cama, ali como caída do céu e para grande felicidade do filme. Se a cama não estivesse lá, não a teria imaginado. É uma das condições do Dogma. Rodagem rápida, ligeira, o mais perto possível da realidade. Enquanto cineasta, desembaraçamo-nos de uns quantos artifícios para chegar ao essencial: confiar no real, acreditar na vida e aceitá-la.

Entrevista por Malika Aït Gherbi,

coordenadora nacional da Association Française des Cinémas d’Art et d’Essai